Farmácias Vivas, o elo que une ciência e ancestralidade no SUS: “Tudo se transforma em saúde”

Da Redação
10/12/2021 - 05:25
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Farmácias Vivas, o elo que une ciência e ancestralidade no SUS: “Tudo se transforma em saúde”

Baseado nos saberes populares, prescrição de remédios fitoterápicos se expande e já alcança 400 registros na Anvisa

Plantar, colher, e formular medicamentos. Tudo feito nas comunidades e dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Os pilares que formam as Farmácias Vivas nos mostram que hoje o uso das plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas já não é uma realidade tão distante. 

“A Farmácia Viva é SUS. Trabalha diretamente com aquelas pessoas que não tem acesso a uma saúde diferenciada, mas que conseguem acesso às plantas medicinais, aos fitoterápicos, ao seu uso racional, fazendo com que tudo se transforme em saúde”, pontua Kallyne Bezerra, coordenadora do programa Farmácia Viva Hortos Terapêuticos do Maranhão (MA).

Por lá, o projeto iniciou em 2016 nos 30 municípios com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado, unindo ciência, ancestralidade e desenvolvimento comunitário. 

O público atendido é amplo. Comunidades quilombolas, aldeias indígenas, terreiros de matriz afro-brasileira e até em unidades prisionais. Em 2021, são 187 cidades contempladas e 300 médicos que prescrevem os fitoterápicos no estado. 

Fitoterápicos para doenças crônicas

Um grande sucesso durante a pandemia foi o xarope de mel e agrião, que funcionou com um belo expectorante para o aumento da imunidade. 

“Naquele auge da Covid foi um dos xaropes que nós mais produzimos, assim como o de guaco, que a gente também ensinou a produzir. E tudo ali no laboratório. Eles aprendiam e faziam em casa”, relembra Bezerra.

Hoje, as plantas locais, entre elas o Jambolão e a Pata de Vaca, também são utilizadas para o enfrentamento de doenças crônicas, como a hipertensão e a diabetes.  

“Diabetes é um índice altíssimo.. Hipertensão, principalmente de 2020 para cá aumentou muito nos municípios. Então, a gente tem plantas específicas para essas duas patologias. A gente também tem muita verminose, dores articulares, pessoas com imunidade baixa. E é sempre a mesma reclamação. Fraqueza e muita das vezes porque não tem o que comer”, explica a farmacêutica, que liderou o projeto inspirada no legado da educadora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Terezinha Rêgo.

Arranjo produtivo em Betim (MG)

Já no município de Betim, em Minas Gerais, a Farmácia Viva existe desde 2004 e é uma das mais antigas do país. Por lá, o uso dos fitoterápicos tem sido crucial para o tratamento de feridas e dermatites.

Sidnéia Zacour, farmacêutica responsável pela Farmácia Viva do município, conta que as prescrições também são comuns em pacientes com ansiedade e depressão. 

Saiba mais: https://www.brasildefato.com.br/2017/10/10/folhas-raizes-e-cascas-aprenda-a-preparar-diferentes-tipos-de-chas

“A vantagem da fitoterapia é essa. Você consegue fazer esse trabalho não só na cura mas na prevenção”, pontua Zacour.

Antes de serem manipuladas, as plantas são cultivadas no arranjo produtivo local, um viveiro com mudas diversas. O espaço também é palco para ações de educação popular para o processamento das espécies. 

“O trabalho que a gente faz, além desse cultivo, dessa produção de fitoterápicos, é também a educação na saúde. Então a gente faz rodas de conversa nas unidades, com doação de mudas. É na tentativa de realmente que o paciente conheça sobre as plantas”, explica a farmacêutica.

Ingresso no SUS

O uso de plantas medicinais é um saber tradicional indígena e que também permeia a história dos curandeiros no país.

Baseado nesses ensinamentos populares, o modelo das Farmácias Vivas surgiu no Ceará, em 1983, através do trabalho do professor Francisco José de Abreu Matos. Mas o projeto só seria instituído no Sistema Único de Saúde (SUS) décadas mais tarde, em 2010. 

A criação da Associação Brasileira das Farmácias Vivas (ABFV), neste ano, foi um importante passo para que as iniciativas estejam presentes em todo o território nacional e não dependam da boa vontade de estados e municípios.

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“Uma das dificuldades que a gente encontra é justamente a descontinuidade política. Quando se tem verba efetiva, sai gestor, entra gestor, mas aquela verba é garantida, como por exemplo, os medicamentos tripartidos, para a compra de medicamentos básicos e essenciais. Sempre tem essa verba em relação ao número de habitantes”.

No SUS, há quatro formas farmacêuticas para a utilização das plantas medicinais: as plantas frescas, as plantas secas, e os fitoterápicos manipulados ou industrializados. Hoje, há mais de 400 fitoterápicos registrados na Anvisa e o uso acontece prioritariamente na Atenção Básica.

“Nós viemos para incrementar todo o arsenal terapêutico que já existia no SUS. Então, a gente veio pra somar”, finaliza Zacour.

Fonte: https://www.brasildefato.com.br/