Privação do sono pode levar dificuldades para caminhar

Da Redação
15/11/2021 - 16:06
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Privação do sono pode levar dificuldades para caminhar

Análise conduzida pelo Laboratório de Biomecatrônica da Escola Politécnica observou uma perda de estabilidade do ritmo do passo em estudantes sob privação de sono

Por Sebastião Moura, do Jornal da USP

Análise conduzida pelo Laboratório de Biomecatrônica da Escola Politécnica da USP, coordenado pelo professor Arturo Forner-Cordero, monitorou os padrões de sono de 30 estudantes universitários. Após serem submetidos a um teste de coordenação motora, foi constatado que a privação de sono afetou o controle de marcha, responsável pelo equilíbrio das pessoas durante a caminhada. Esses resultados podem orientar a atuação da prática clínica em processos de fisioterapia e na identificação de sintomas de fadiga, entre outras intervenções médicas. Um artigo sobre o tema foi publicado no periódico científico Science Reports, e está disponível neste link.

O trabalho foi concebido após os pesquisadores do laboratório, que é especializado no estudo do controle motor e desenvolvimento de exoesqueletos, notarem que os estudantes que serviam de voluntários nos testes de coordenação apresentavam resultados muito ruins no final do semestre, e a falta de sono foi citada como um dos possíveis motivos.

Os testes foram realizados da seguinte forma: os voluntários passaram duas semanas usando um actímetro (equipamento usado para monitorar padrões de sono) e depois foram divididos em três grupos. Como todos os estudantes sofriam de algum grau de privação de sono cotidiana, o grupo controle consistiu de estudantes que, embora não dormissem o suficiente ao longo da semana, compensavam essa perda no fim de semana. Os estudantes que não recuperavam o sono perdido nos dias de folga, por outro lado, formaram o grupo com “privação de sono crônica”. Por último, parte dos voluntários foi orientada a virar uma noite sem dormir logo antes do teste, para servir de grupo com “privação de sono aguda”.

No teste, os pesquisadores pediram aos voluntários que andassem em sincronia com um bipe produzido por uma máquina. A frequência do bipe variava em alguns milissegundos gradativamente, para representar os microajustes imperceptíveis que fazemos enquanto caminhamos normalmente.

Ao tentar acompanhar o bipe, o grupo com privação de sono crônica não conseguiu manter a estabilidade do ritmo. E o grupo da privação de sono aguda foi ainda pior, perdendo completamente a sincronia.

“A população idosa tem grande prevalência de internações por queda e uma qualidade de sono pior, em média. Notar uma relação entre esses dois fenômenos pode ter várias implicações práticas para fins terapêuticos, como voltar as estratégias de cuidado para o sono visando a melhorar o controle do passo e evitar esse tipo de acidente.”

Guilherme Umemura é formado em Educação Física pela Universidade Federal de Lavras e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, onde está atualmente fazendo seu doutorado e pesquisando biologia do sono e aprendizagem motora – Foto: Arquivo pessoal

Esses resultados têm implicações importantes para a prática clínica, explica Guilherme Umemura, primeiro autor do artigo: “Por exemplo, a população idosa tem grande prevalência de internações por queda e uma qualidade de sono pior, em média. Notar uma relação entre esses dois fenômenos pode ter várias implicações práticas para fins terapêuticos, como voltar as estratégias de cuidado para o sono visando a melhorar o controle do passo e evitar esse tipo de acidente”.

O inverso também é possível, segundo ele: “Quem sabe, no futuro, seja possível desenvolver sistemas para monitorar os padrões de caminhada das pessoas e usar isso para identificar indivíduos sofrendo com fadiga, algo relevante na segurança de trabalho, entre outros contextos”.

A caminhada dos voluntários foi registrada por sensores no laboratório e a estabilidade do ritmo foi analisada através de um sistema computacional/ Imagens cedidas pelo pesquisador

Umemura recebeu financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o projeto recebeu fundos do Office of Naval Research Global, instituto de financiamento de pesquisa internacional do governo dos EUA. Além dele e do coordenador Forner-Cordero, o artigo contou com a colaboração de João Pedro Pinho, também da Poli, e de Jacques Duysens e Hermano Igo Krebs, da Universidade Católica de Leuven e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

Mais informações: e-mail [email protected], com Guilherme Umemura, e Arturo Forner-Cordero, e-mail [email protected]