“Nos ajudem.Tenham empatia, respeitem o isolamento”, suplicam profissionais da saúde

Da Redação
28/03/2021 - 08:30
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“Nos ajudem.Tenham empatia, respeitem o isolamento”, suplicam profissionais da saúde

Crescem postagens com depoimentos de trabalhadores da linha de frente ante a trágica realidade da covid nos hospitais. “Não é fácil dar notícia para um pai e uma mãe de que perderam um filho”

“Eu fui internada com covid, fiquei três dias em ala. Fui piorando, não conseguia respirar e fui para a UTI. Na noite que me falaram que eu seria intubada, entrei em desespero (…) Eu pensava nas minhas filhas, na minha família. Não vou ver minha filha se formar, não vou ver mais meu marido, minha casa. Não vou ver mais ninguém. Achei que nunca mais fosse sair daquela situação.”

Diferentemente da maioria que passa por intubação para tratar a infecção causada pelo novo coronavírus, ela conseguiu se recuperar.


Depoimentos de profissionais médicos e de enfermagem têm se multiplicado nas redes sociais, diante do cenário cada vez mais catastrófico da pandemia no país. Não são apenas números, mas pessoas reais, dedicadas e vivendo há meses com a sensibilidade no limite. Além da experiência de ter passado pela infecção respiratória, os trabalhadores na linha de frente do combate à doença também descrevem exaustão física e psicológica.


Colapsos

O Brasil vive o pior momento da covid-19 desde o início do surto, em março de 2020. Nesta sexta-feira (26) foram registradas a morte de 3.650 pessoas em um único período de 24 horas – cinco brasileiros mortos a cada dois minutos. No dia 22 de janeiro, a média diária de óbitos chegou na casa de mil. Já são mais de 307 mil vidas ceifadas pelo vírus no Brasil, sem contar com a ampla subnotificação, reconhecida até pelo governo desastroso de Jair Bolsonaro.

Por seu lado, cientistas, profissionais da saúde, entidades ligadas à gestão da saúde pública e outros, apelam há meses por políticas de governo que promovam isolamento social com garantia de renda mínima a todos, por meio de um auxílio emergencial digno e justo aos que precisam.


A maior crise sanitária e hospitalar da história do Brasil deixa o sistema de saúde em colapso e seus profissionais, de joelhos. Em todas as regiões do Brasil faltam leitos para pacientes graves. Também já começam a faltar insumos básicos, como anestésicos e demais medicamentos para intubação. Até mesmo oxigênio hospitalar deverá faltar em poucos dias. Como resultado, cresce o número de pessoas morrendo à espera de uma vaga em hospital, sem sequer conseguir atenção médica adequada. Sofrimentos, histórias, planos e sonhos interrompidos pelo luto das famílias que os números oficiais da pandemia não traduzem.


Confira alguns destes relatos:

Tânia Alves, técnica de enfermagem do Hospital das Clínicas de Marília

“Eu entrei no hospital e não vi ninguém da minha família. A partir do momento em que você entra, você não vê mais sua família. Como é um setor que você não vai poder ficar com acompanhante, tudo quem faz é o técnico. A partir do momento em que você pisa no hospital e é internado com covid, você vai ver sua família só quando você sair. Se você sair.”

“Eu fui internada, fiquei três dias em ala. Fui piorando, não conseguia respirar e fui para a UTI. Na noite que me falaram que eu seria intubada, entrei em desespero. Comecei a chorar porque sabia que podia não mais voltar. Eu pensava nas minhas filhas, na minha família. Não vou ver minha filha se formar, não vou ver mais meu marido, minha casa. Não vou ver mais ninguém. Achei que nunca mais fosse sair daquela situação.”

Luiz Felipe Pires, médico do Hospital Regional de Presidente Prudente

“Peço a todos, encarecidamente, que nos ajudem. Tenham mais empatia, amor ao próximo, respeitem as medidas de isolamento. Não é fácil. Não é fácil dar notícia para um pai e uma mãe que eles perderam um filho. Tivemos recentemente no nosso hospital o óbito de um rapaz de 29 anos, mais jovem do que eu, com um filho de três anos, da idade do meu. Na mesma noite, meus sogros me contaram que meu filho, em uma brincadeira, jogou uma moeda no lago do condomínio onde moro. E o pedido dele foi para que tivesse a mim e minha esposa de volta pra casa o mais rápido possível. O filho desse paciente não vai ter isso. Nos ajudem”

Ludmila de Melo, enfermeira chefe do Pronto Socorro do Hospital das Clínicas da Unicamp

“Tenho trabalhado nessa pandemia na linha de frente (…) tenho percebido que nestes últimos meses, nestas últimas semanas, especialmente na última semana, tivemos um aumento crescente de casos de covid-19. Tanto de pacientes idosos como já vimos na onda anterior, como de pacientes jovens. O que tem causado também grande consternação, além de pacientes jovens precisando de aparelhos, precisando de UTI, temos visto também famílias internadas. Pai e mãe, esposa, avós. Isso tem comovido muito a gente que está sobrecarregada, estressada. Lidar com o adoecimento da equipe também não tem sido fácil.”

Carolina Mota Abreu, médica da UTI covid-19 do Hospital das Clínicas de Marília

“Paciente jovem que quando foi ser intubado nos pediu papel e caneta para escrever à irmã. Escreveu que gostaria que ela continuasse a cuidar do filho dele, que ele achava que não seria mais capaz. Escreveu ao final para Deus o salvar. Mesmo sendo jovem, sem comorbidades, não fomos capazes de salvá-lo. Durante esse ano de pandemia, vivemos momentos de muita tristeza, momentos impactantes junto aos nossos pacientes.
Um deles, um colega profissional de saúde, quando tive que intubar, ele me disse que sabia o desfecho. Obeso, com várias comorbidades. Pediu para que desse um recado à família, que eles se encontrariam em um lugar melhor. De fato, apesar de tudo que fizemos, não foi possível salvá-lo”.

Lucas Marques da Costa Alves, médico infectologista do Hospital Estadual de Bauru

“Faz um ano que a gente vem enfrentando a covid. Pacientes muito graves. Tivemos um pico no meio do ano, tivemos uma melhora e agora um novo pico. Sem dúvida alguma, neste ano, é nosso pior momento. Pior momento em que os pacientes têm chegado mais graves, estão chegando em grande quantidade, leitos de UTI estão cheios e os profissionais estão muito cansados. Nós estamos muito cansados. Pedimos, por favor, que fiquem em casa. Evitem circular. Vamos tentar parar isso, estamos chegando no limite.”

Com  RBA/ Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo