Fiocruz: Aumenta a transmissão da covid entre crianças. ‘Impacto da flexibilização’

Da Redação
29/10/2021 - 12:19
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Fiocruz: Aumenta a transmissão da covid entre crianças. ‘Impacto da flexibilização’

Mesmo mais resistentes à covid, crianças possuem chances de desenvolver covid longa e outros problemas respiratórios, além de serem vetores de transmissão

Por Gabriel Valery, da RBA

“É necessário cautela e acompanhamento do impacto das medidas de flexibilização”


 O Brasil ultrapassou hoje (28) a marca de 607 mil mortos por covid-19. O surto no segundo país com mais vítimas no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, encontra-se em tendência de estabilidade. Apesar de melhor diante do histórico, trata-se de um patamar elevado. Nas últimas 24 horas, morreram 389 pessoas.

A média diária de vítimas, calculada em sete dias, está em 341. Embora os resultados da vacinação sejam claros, o fim precoce de medidas sanitárias preocupa cientistas. “É necessário cautela e acompanhamento do impacto das medidas de flexibilização em decorrência da interrupção na tendência de queda“, aponta a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O último boletim InfoGripe, da Fiocruz, também divulgado hoje, revela que a situação não está sob controle. “O número de casos de SRAG segue abaixo dos picos de março e maio deste ano, porém mantendo valores superiores aos de 2020. Houve apenas um leve aumento nas últimas semanas em alguns locais, mas se mantendo dentro da média recente”, aponta o responsável pelo boletim, Marcelo Gomes.

O pesquisador ainda aponta para um forte crescimento no número de casos de outros vírus respiratórios, especialmente entre crianças. “A análise verificou que na faixa etária de zero a nove anos houve aumento significativo de registros de outros vírus, com valores semanais superiores aos observados para covid-19”.

Crianças em foco

Gomes chama a atenção para que o aumento de casos de síndromes respiratórias em crianças tem a ver com o grupo ter maior risco com o fim das medidas de restrição.

“Isso, fundamentalmente por conta da maior exposição das crianças. Elas circulam mais, voltaram para as escolas, isso faz com que a transmissão seja mais frequente. Não só em relação à covid, como em relação a outros vírus. Precisamos ter um contato atento no ambiente escolar. Turmas reduzidas é fundamental para o ensino em si, mas também para reduzir os riscos de infecções respiratórias. É essencial também manter salas ventiladas, arejadas, e manter o uso de máscaras”.

O fato é que as crianças podem ser mais resistentes de modo geral à covid-19. Entretanto, existem riscos acentuados de covid longa, quando os sintomas permanecem por maior tempo, e também, elas acabam transmitindo os vírus para adultos, além de pessoas do grupo de risco, como idosos e imunossuprimidos. Cientistas apontam que o controle da covid é essencial, já que não existe vacina com 100% de eficácia. Por se tratar de um vírus com alto grau de transmissibilidade, em um cenário de descontrole, menos mortes, graças às vacinas, continuam sendo muitas.

Precipitados

liberação do uso de máscaras em locais abertos, como visto hoje no Rio de Janeiro, é um exemplo de medidas ainda necessárias e deixadas de lado. Existem amplos impactos possíveis de mensurar, como afirma a professora especialista em imunologia Letícia Sarturi.

“Sobre a não obrigatoriedade de máscaras em locais abertos, eu só consigo pensar numa coisa: vocês estão moldando um comportamento social e depois, se der errado, dificilmente vão conseguir exigir novamente o uso”. aponta.


“Países que fizeram isso muito precocemente se arrependeram e voltaram atrás. A não obrigatoriedade do uso em locais abertos pode levar ao pensamento de que a pandemia acabou. As pessoas vão deixar de usar máscaras em locais fechados também. Deixaremos de reforçar a principal forma de prevenção da covid, além das vacinas. Ao ver gente sem máscara o comportamento de quem tá usando é moldado a não usar também. Não vão conseguir convencer a usar máscara novamente, se isso resultar em aumento no número de casos”, completa.