Conass, secretários estaduais de saúde e governadores rejeitam recomendação do governo Bolsonaro de não vacinar crianças

Da Redação
24/12/2021 - 17:01
  • Compartilhe no Facebook
  • Compartilhe no Twitter
  • Compartilhe no Linkedin
  • Compartilhe no Telegram
  • Compartilhe no WhatsApp

Conass, secretários estaduais de saúde e governadores rejeitam recomendação do governo Bolsonaro de não vacinar crianças

O Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass) publicou nesta sexta-feira (24) mensagem de Natal dirigida às crianças do Brasil em que afirma que os gestores não exigirão nenhum tipo de documento na campanha de vacinação infantil contra a covid-19. A decisão contraria anúncio do governo de Jair Bolsonaro de que irá recomendar que os pais ou responsáveis por crianças de 5 a 11 anos apresentem prescrição médica e declaração de consentimento para receberem a imunização.

“Infelizmente há quem ache natural perder a vida de vocês, pequeninos, para o coronavírus. (…) Por isso, no lugar de dificultar, a gente procura facilitar a vacinação de todos os brasileirinhos. E é esse recado que queremos dar no dia de hoje, véspera de Natal: quando iniciarmos a vacinação de nossas crianças, avisem aos papais e às mamães: não será necessário nenhum documento de médico recomendando que tomem a vacina”, diz o cartão (leia a íntegra ao fim desta matéria).

Resistência aberta

A definição sobre quais regras devem ser aplicadas para a vacinação de suas populações cabe aos estados e municípios e não ao governo federal.

Porém, após a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizar a aplicação da vacina da Pfizer para essa faixa etária, o presidente Jair Bolsonaro transformou a vacinação infantil em mais uma batalha em sua guerra contra a vida dos brasileiros.

Ele chegou a dizer que iria divulgar o nome dos técnicos da agência que aprovaram o uso da vacina da Pfizer para crianças a partir de cinco anos. Em seguida, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, também passou a se mostrar contrário à medida, mesmo sendo o Brasil o segundo país com mais mortes de crianças causadas pela covid. De março do ano passado até agora, foram 1.138 óbitos registrados na faixa etária de zero a nove anos.

:: Brasil é um dos piores do mundo em mortes de crianças por covid-19

  • “A nossa recomendação é que essa vacina não seja aplicada de forma compulsória. Ou seja, depende da vontade dos pais. E essa vacina estará vinculada a prescrição médica, e a recomendação obedece a todas as orientações da Anvisa”, disse.

Além disso, o governo federal anunciou uma consulta pública para colher opiniões sobre o tema. A investida contra a saúde dos pequenos recebe intensa reação de praticamente todos os setores da sociedade brasileira. “Vacina autorizada pela Anvisa não é assunto de consulta pública, pois a autoridade deste órgão independe do voto”, afirmou a neurocientista Mellanie Fontes-Dutra, que também faz parte da coordenação da Rede Análise Covid-19.

Contraditório e interesseiro

Ao passar a defender abertamente a restrição à vacinação infantil contra a covid, o ministro Queiroga contraria posicionamento anterior dele mesmo. Em novembro, em entrevista a uma emissora de TV, ele afirmou que incluiria a imunização de crianças na programação de combate ao coronavírus, tão logo houvesse autorização da Anvisa.

A entrevista foi lembrada pelo perfil Desmentindo Bolsonaro no Twitter.

Contestado

Segundo a Folha de S.Paulo, muitos dos gestores estaduais criticam duramente as ações do ministro frente à pasta, justamente por atuar apenas em função da base bolsonarista. Afirmam nos bastidores que Queiroga havia abandonado os compromissos com a saúde pública para se dedicar a uma agenda que visa uma futura candidatura a um cargo legislativo no ano que vem.

Ainda de acordo com a Folha, os secretários consideram que os posicionamentos mais recentes do ministro visam apenas agradar o mesmo eleitorado do presidente da República e não ajudam no combate à pandemia, ao contrário.

O jornal cita entrevista em que o presidente do Conass, Carlos Lula, declarou, em outubro, que Queiroga tinha perdido as condições de gerir o ministério.