4ª onda de covid-19 põe Europa e África em alerta e cientistas recomendam prevenção e cancelamento de carnaval e reveillon

Da Redação
27/11/2021 - 05:25
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4ª onda de covid-19 põe Europa e África em alerta e cientistas recomendam prevenção e cancelamento de carnaval e reveillon

Em um momento em que os números de covid-19 seguem aparentemente controlados no Brasil, em  vários países da Europa a infecção pelo novo coronavírus só aumenta e traz muitas incertezas. A Europa é o novo epicentro da pandemia. A pergunta que todos fazem é: será que esses números vão aumentar aqui no Brasil também? Além disso, teremos mais uma onda da doença? E as mortes, será que vão voltar a subir mesmo com as pessoas vacinadas?

A Bélgica registrou nesta sexta-feira (26) o primeiro caso na Europa da mais nova variante do coronavírus, a B.1.1.529, detectada inicialmente na África do Sul e que já levou diversos países a adotarem  restrições de viagem a países africanos.

O virologista Marc Van Ranst, cujo laboratório trabalha em estreita colaboração com o serviço de saúde pública da Bélgica, divulgou no Twitter que a nova variante foi detectada numa mulher jovem não vacinada contra a covid-19 que havia retornado do Egito via Turquia em 11 de novembro.

Segundo Ranst, a mulher não possui contatos com a África do Sul ou outros países do sul africano e desenvolveu os primeiros sintomas similares aos de uma gripe mediana em 22 de novembro. As outras pessoas que residem com ela não desenvolveram sintomas, mas aguardam o resultado de seus testes.

Cientistas da USP recomendam cautela

Dois especialistas da Universidade de São Paulo, entrevistados pelo Jornal da USP, esclareceram dúvidas sobre o que está acontecendo no Brasil e na Europa. O professor Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista do Departamento de Política e Gestão em Saúde da  Faculdade de Saúde Pública da USP, ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), explica que vários fatores favorecem o Brasil neste momento. O primeiro deles, sem dúvida, é o clima quente, diferente do que ocorre agora na Europa. A entrada da variante gama e a vacinação fizeram o Brasil se proteger da doença. 

As vacinas  ajudaram sobremaneira a contenção da doença no mundo, mas ainda existem muitos países que não têm uma cobertura suficiente de segurança. Dos dez países onde a covid-19  avança, oito deles estão com vacinação abaixo dos 60%. 

A professora Ester Sabino, pesquisadora do Departamento de Moléstias Infecciosas, virologista da Faculdade de Medicina da USP, imunologista que participou do sequenciamento do novo coronavírus no Brasil, diz que “a taxa de vacinação ainda é muito baixa na Europa. A resistência à vacina é um problema nesses países”. Apenas Portugal e Espanha estão com a cobertura vacinal acima de 80%. 

Mesmo assim, o mundo não está livre de novas variantes. Vecina diz que elas podem surgir justamente pelo grande número de pessoas contaminadas na Europa, por exemplo.

“As chances de elas chegarem ao Brasil são muito grandes e aí temos que discutir, sim, se não temos que fechar nossas fronteiras para, pelo menos, diminuir a velocidade do impacto. Porque virá (a variante), não tem jeito, o vírus está circulando e vai chegar no mundo inteiro”, avalia o sanitarista. 

A par disso, especialistas entendem que os acontecimentos na Europa devem inspirar ações de prevenção no Brasil. A taxa de cobertura vacinal por aqui se aproxima dos 60%. A professora Ester Sabino, da Faculdade de Medicina da USP, explica que “o Brasil ainda vive o efeito das pessoas que tomaram a vacina”. A memória imunológica ainda é alta. Um boletim divulgado pela Fiocruz  destaca que a nova onda de covid-19 na Europa e na Ásia deve servir de alerta ao Brasil, para o risco de o número de casos voltar a subir, com a temporada de festas e férias, quando há maior circulação de pessoas em diversos ambientes. O fato, porém, é o de que em nenhum outro lugar do mundo há tantas mortes pela covid, neste momento, quanto no Velho Continente.

OMS não aconselha restrições de viagem

A Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda não aconselha a imposição de restrições de viagem e apelou aos países para que tomem suas decisões “baseados na ciência”.

OMS: Covid-19 pode matar mais 700 mil na Europa até março

“Até o momento, a implementação de medidas restritivas a viagens não é recomendada”, disse o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier, em Genebra. “A OMS recomenda que os países continuem a aplicar uma abordagem científica e baseada no risco ao implementar medidas de viagem.”

nova variante carrega o nome técnico de B.1.1.529 – a OMS deve batizá-la com uma letra grega ainda nesta sexta-feira. A organização convocou uma reunião com especialistas para avaliar o grau de preocupação que deve ser dado à nova variante do coronavírus.

Ainda não se sabe se a nova variante é mais perigosa ou mais transmissível, mas primeiras avaliações de infectologistas apontaram para a existência de ao menos 50 mutações dentro da própria variante – algo que ainda não tinha sido registrado na pandemia de covid-19 e que preocupa por possivelmente representar uma defasagem das vacinas, que foram desenvolvidas tendo como base a cepa original registrada inicialmente em Wuhan, na China.  

Para efeito de comparação, a variante delta possui duas mutações e a variante beta – também originária da África do Sul – possui três. A variante B.1.1.529 teria ao menos 32 mutações somente na proteína spike, usada para entrar nas células humanas e que é o alvo da maioria das vacinas contra covid-19.     

Com informações do Jornal da USP e do Brasil de Fato